22 março, 2014

Bons Títulos Infantis em Português - 2

Sempre ouvi dizer que meninos não costumam ler livros em que a personagem principal seja feminina, mas que meninas não fazem a mesma discriminação. Para quem não tem a facilidade de uma rede de bibliotecas por perto ou não tem uma boa biblioteca na escola, mas tem meninos e meninas em casa, sugiro investir em bons livros estrelados por personagens masculinos. As meninas vão ler e curtir também.
 
Não acho que tenha sido à toa que J. K. Rowling tenha escolhido um menino para ser o personagem principal de sua série de sucesso.
 
Harry Potter

 

 
 
Aos 7 anos e meio, o que o Pacotinho de Leitura curte muito são livros de séries, com os mesmos personagens em diferentes aventuras. Teve que dar uma parada depois de ler os dois primeiros do Harry Potter (no original em inglês, já que ele não lê tão rápido em português quanto lê em inglês), porque a partir do terceiro volume, parece que o enredo fica meio macabro e, nesta idade, imagens assustadoras costumam perturbar o sono.

Na verdade, a série do Harry Potter foi escrita para crianças um pouco mais velhas, que já conseguem separar a realidade da fantasia dos livros e não ficam atormentadas pelos vilões das histórias na hora de dormir .

A vantagem de ler para uma criança com frequência  fica visível quando ela mesma é alfabetizada, em qualquer língua. O Pacotinho de Leitura não aprendeu a ler em casa e não estava à frente dos colegas de classe aos 5 anos de idade, mas assim que foi alfabetizado, sempre esteve muito avançado em relação ao esperado para o ano escolar. Ele costuma ler entre 10 a 15 livros toda semana (e viva a maravilhosa rede de bibliotecas de Vancouver, senão iríamos à falência), deitado na cama, como passatempo até o sono chegar. Como a maturidade não acompanha a capacidade de compreensão de leitura, nem tudo o que ele consegue ler é adequado à idade.


Geronimo Stilton
 
 
Esta série é enorme, uma das favoritas da galera de 7-8 anos e foi uma amiga quem descobriu os títulos em português. O ratinho detetive vive muitas aventuras, uma delas no Brasil (no título original Rumble in the Jungle, que não sei se já foi traduzido para o português).
 
Como a biblioteca local e a escolar contam com dezenas de títulos da série, o Pacotinho de Leitura provavelmente já leu mais de 40 volumes desta coleção, incluindo os estrelados pela Thea Stilton, no original.  Na próxima visita ao Brasil, certamente a versão brasileira estará na mala. 
 
 
Zac Power
 
 
 
 
 
A série não é das mais inteligentes ou instrutivas, mas as aventuras do menino agente secreto são um sucesso absoluto entre os meninos de 6-7 anos. O Pacotinho de Leitura Dinâmica ganhou por coincidência um exemplar em inglês e outro em português no Natal de 2012 e, desde então, já leu a série toda no original em inglês. Ele lê um livro desses enquanto espera o almoço no restaurante no final de semana. São livros curtos, de leitura fácil. Nesta idade, o mais importante é adquirir o gosto pela leitura e, contanto que o enredo não seja inadequado para a idade ou muito politicamente incorreto (tenho aversão ao estilo "o rei falou que daria seu reino ao filho que se casasse com a moça mais bela"), vale a pena deixar as crianças lerem o que elas curtem.
 
 
Problemas Boborildos
 


 
O título divertido e a ilustração da capa dão uma ideia do quão inusitado é o livro. Para os que já sabem fazer contas simples de matemática, este livro é muito interessante. Tenha papel e lápis do lado e dê asas à imaginação do seu companheirinho de leitura, que vai tentar calcular os problemas dos Boborildos e de todas as criaturas de nome esquisito.


15 março, 2014

Bons Títulos Infantis em Português


Como os livros infantis tem sido uma paixão, um assunto delicioso há alguns anos aqui no Iglu e muita gente pede sugestões na hora de encomendar do Brasil, vai aqui uma pequena lista dos favoritos da Fofolete (3 anos e meio) nos últimos meses (as idades são somente uma referência, algumas crianças com 1 ano e meio conseguem sentar por longos períodos e prestar atenção, outras até os 4 anos anos correm tanto que só na hora de dormir são capazes de acompanhar um livro todo - no Iglu, tivemos um exemplar de cada tipo):


Bruxa, Bruxa, Venha à Minha Festa
 (para crianças a partir de 2 anos)

Os pais podem se assustar com as ilustrações realistas, mas os pequenos vão adorar "ler" sozinhos em voz alta o enredo repetitivo do livro e não parecem se incomodar com as figuras. Fofolete ama de paixão.

 
 
Tico e os Lobos Maus
(para crianças em torno de 3 anos)
 
 
 
Quem tem uma criança de 3 a 5 anos em casa que fica inventando mil e uma desculpas para não dormir vai se identificar totalmente. Tico faz isso com maestria e a mãe dele encontra uma solução genial para colocar a filharada na cama.
 
 
Uma Lagarta Muito Comilona
(a partir de quando a criança consegue ficar sentada por 5 minutos)
 
 
Este clássico do Eric Carle, todo em páginas grossas e à prova de rasgões, tem sido um sucesso em vários países por muitas décadas. A versão em português é tão boa quanto a original. Outro livro que os pequenos memorizam com facilidade e adoram recitar sozinhos.
 
 
Carona na Vassoura
 (a partir de 3-4 anos)
 


Julia Donaldson, a mesma autora de O Grúfalo (um dos melhores livros já escritos para crianças pequenas, na minha opinião) , acompanhada do mesmo ilustrador do seu livro mais famoso, mantém o estilo das rimas e das ilustrações belíssimas nesta obra. O livro foi transformado num filme curto  http://www.youtube.com/watch?v=v5rE75FT1bQ que foi indicado ao Oscar deste ano.
 
Macaco Danado (a partir de 3-4 anos)
 

Novamente Julia Donaldson e Axel Scheffler nesta obra, que ficou com o título estranho em português, mas conta o caso divertido de um macaquinho perdido e da borboleta que tenta ajudá-lo a encontrar sua mãe. Muito interessante para ensinar às crianças  as diferenças de ponto de vista e o fato de que nem sempre o ouvinte raciocina da mesma forma que o locutor.

 
A Vaca Que Botou um Ovo (a partir de 2-3 anos)
 
 
 
Não que as crianças não tenham gostado, mas a Mamãe Leitora ficou encantada com este livro, que fala de uma forma hilária da importância de animar um amigo num momento de tristeza e de como uma mãe consegue amar um filho adotivo tanto como os que ela gerou. O tema do livro é mais profundo do que as crianças entendem nesta idade, talvez por isso os adultos curtam tanto  quanto os pequeninos ou mais.



A Maravilhosa Ponte do Meu Irmão
(a partir de 3 anos)
 

Outro que vai derreter o coração dos adultos e encantar as crianças com lindas ilustrações. Um conto delicioso sobre os poderes da imaginação, mas sobretudo sobre aquele fascínio típico que o irmão mais novo costuma ter em relação ao irmão mais velho, acima de qualquer rivalidade.

 
Coleção da Rita Sapeca
(a partir de 2 anos)
 
 
 
 


Rita Sapeca é uma ratinha que gosta de livros e de panquecas/ neve/ férias... Assim começam todas as divertidas aventuras da Rita, que sempre se atrapalha de algum jeito quando tenta qualquer coisa. Os livros misturam imagens no meio das frases, tornando a leitura interativa até para os bem pequenos. Temos 11 exemplares e todos fazem sucesso. O Pacotinho de Leitura curtiu muito a Rita Sapeca, agora é a vez da Fofolete.


Os livros da Rita Sapeca podem ser adquiridos somente na própria editora ou na Estante Virtual, porque eles não estão disponíveis em livrarias.
 
Chapeuzinho Redondo

(a partir de 3 anos)
 
 
 

Numa versão muito mais engraçada do que a original, a Chapeuzinho Vermelho arranca gargalhadas da garotada neste livro.

 
 
Porcolino e Mamãe

(a partir de 2 anos)
 
 
 
Fofíssimo livro, que fala da ansiedade de separação do ponto de vista de uma criança pequena. Ao contrário dos muitos títulos do Stephen Michael King que tratam de hiperatividade,  deficit de atenção e da dificuldade em se encontrar num mundo que exige "ser normal" (dá pra escrever um post inteiro sobre os livros dele), esta obra não trata do tema. O texto deve ser da Margaret Wild. 

 


Boa leitura. No próximo post, dicas para crianças que já sabem ler sozinhas.
 

 
 


11 março, 2014

SAL do Iglu para Laura

Você vai ouvir muitas opiniões diferentes e a questão de que idioma falar com os filhos vai muito além de ensinar para que eles também aprendam. Não sei como é na sua casa, mas se você e seu marido conheceram-se falando francês e conversam entre si em francês, ficaria artificial para vocês conversarem em português, somente porque ele aprendeu. Seria como se sua mãe agora aprendesse francês e aí vocês decidissem que iriam sempre conversar nesta língua. Claro que não iria ficar natural.

Mais importante que você pensar se deve ou não falar francês com seu filho é seu marido estar convicto de que ele vai, em qualquer circunstância, falar na língua dele com o filho. Se ele não estiver firme neste propósito, a criança não vai responder em francês enquanto morar no Brasil.

Ao invés de criar artificialmente situações para que a criança escute francês, coloque os avós no Skype, peça pro marido ler livros em francês, contar histórias, ensinar as músicas que ele cantava na infância, cozinhar um prato preferido. É preciso criar situações naturais e prazeirosas.

Meus filhos falam entre si em português, ainda que na presença de amiguinhos canadenses. Meu marido, que tem muitos parentes aqui, inclusive pais que são avós dedicados e próximos, todos com muita boa vontade mas pouca convicção, não consegue que as crianças respondam sempre em servo-croata. Não foi a quantidade de gente falando a língua que fez a diferença aqui em casa.

Na hora de ensinar uma língua minoritária pros filhos, vou parodiar o Falcão: convicção e persistência não são tudo, mas são 100%. Mas isso é a minha opinião.

Um bom livro sobre o assunto é Raising Bilingual Children. Tem um site com o mesmo nome.

Brazil Para Gringuinhos


O Pacotinho de Leitura lê semanalmente 10 a 15 livros da biblioteca pública. Sempre traz 3 da escola na segunda-feira e acompanha a leitura de muitos livros em português toda noite. Uma de suas séries favoritas é a do Geronimo Stilton, o ratinho detetive.

Um belo dia, ele comenta entusiasmado que está lendo um livro em que o Geronimo Stilton está no Brasil. O livro mostra as cataratas, Brasília, fala do carnaval no Rio e também da Amazônia.

Por coincidência, os tios e primos de Brasília resolvem ir passar uns dias nas Cataratas do Iguaçu. Mamãe mostra a foto deles e comenta:

- Olha, eles estão no mesmo lugar em que o Geronimo Stilton foi.

E o Pacotinho de Sabedoria olha pra mãe, sem disfarçar o receio de decepcionar e pergunta:

- Mamãe, você sabe que o Geronimo Stilton não existe, né?

02 março, 2014

Depois do GMAT ou Dicas pra Voltar a Estudar Matemática Depois de 20 Anos

Então a pessoa tira umas férias pra estudar pro GMAT e desaparece. Aí um dia ela cria vergonha na cara e volta, com mil e uma coisas pra falar dos filhos, mas precisa escrever um post básico sobre o GMAT.

Se você tem mais matéria pra estudar do que horas livres na sua semana, pode seguir as dicas de quem se preparou por 3 meses e passou, mesmo após 20 anos sem estudar matemática do segundo grau (a pessoa é tão velha que fala "segundo grau"):

1. Compre o guia oficial do GMAT. Não é o melhor livro para aprender a teoria, nem para praticar os exercícios, mas é o único com questões reais das provas anteriores.

2. Além do guia oficial do GMAT, compre os livros preparatórios da Kaplan. A teoria é explicada mais lentamente, com vários exercícios sobre o mesmo assunto. Se você tem facilidade pra matemática, invista mais tempo nas questões de gramática e vice-versa. Se você é um nerd em algumas das áreas, vai adorar ir pra cama com o livro e ficar testando seus conhecimentos (as questões de gramática são uma cachaça pros nerds em línguas).

3. Se houver um curso muito bom na sua cidade e você achar que está muito enferrujado na matemática, faça o curso. Tenha em mente que nenhum curso ou professor substitui suas horas (muitas, muitas) de estudo sozinho. Sinceramente, as horas pagas ao professor particular são mais bem investidas se transformadas em livros de exercícios. O curso vale como pontapé inicial.

4. Saia de casa para estudar. Pra quem mora em Vancouver, a biblioteca mais próxima deve ser sua segunda casa nos meses de estudo. Ainda que a família toda esteja fora, o estudo na biblioteca costuma render mais. Porque lá, o chão sujo não é responsabilidade sua e, se houver barulho, o pessoal vai tratar de pedir silêncio.

5. Estabeleça horários rígidos de estudo e cumpra o combinado. Aqui no Iglu, foram 3 meses de estudo noturno na biblioteca segundas, terças, quintas e sextas (o Pacotinho de Música tem aula de piano às quartas de noite), sábado das 08:00 às 17:00 e domingo a tarde toda (as crianças frequentam aula de português nos domingos de manhã).

6. Faça os testes online como se fosse o dia da prova. Não se deixe interromper, não vá ao banheiro fora do horário permitido, não tenha nem uma garrafa de água ao lado do computador, nada que não seja permitido no dia da prova. Tente reproduzir do modo mais real possível o teste.

7. Não fique arrasado se o primeiro teste for péssimo. Aproveite para ver as fraquezas, refazer as questões e melhorar. Lembre-se: o GMAT tem que testar exatamente as mesmas habilidades com questões diferentes. Tem muita repetição e vale a pena refazer um tipo de exercício até ficar automático o raciocínio.

8. Não tenha receio de remarcar o teste. Se a data está se aproximando e você acha que pode se preparar melhor, pague a taxa e mude a data.

9. Chegue cedo ao local. Tem tanta coisa que eles revistam na chegada, que é mais fácil embarcar num avião americano acompanhado de uma turma de terroristas armados do que entrar no local do GMAT com uma foto no documento que não se parece nada com você.

E, finalmente: comemore. Estudando 3 meses, é possível passar, tirar uma nota excelente na redação e razoável na matemática (ou o contrário, caso suas habilidades sejam opostas).

Agora, os mil e um formulários para se candidatar à vaga do MBA esperam você.

18 outubro, 2013

Outono Colorido em Vancouver

Imagens que dispensam explicações. O Criador estava inspirado quando imaginou o outono.

Prioridades na Vida Escolar

- Fofolete, você fez alguma coisa pra Mamãe na escola hoje?
- Sim. Uma aranha vermelha.
- E pro seu pai?
- Uma aranha vermelha também.
- E pro Daniel.
- Pro Daniel, não fez. Daniel não é pai, é só irmão.

30 setembro, 2013

Três Anos

"Fofolete,

Hoje você completa 3 anos de vida. Como a festa aconteceu há alguns dias, quando Mamãe comentou que seu aniversário seria na segunda-feira, você deduziu que já estaria completando 4 anos! Se algum dia você quiser saber, Mamãe prefere comemorar no início do mês, no mais tardar em meados de setembro, quando a chance de chuva é menor (e ela não errou, choveu absurdamente no final de semana seguinte). Como seu avô materno, Mamãe também abomina superstições e não acredita que dá azar comemorar o aniversário antes do dia.

Você ficou tão feliz na sua festinha! Falou por muitos meses que queria uma festa de bailarina e um bolo rosa. Mamãe curtiu muito preparar tudo. Aliás, ela se entristece pensando que o tempo voa, logo você será uma adolescente e não vai mais querer docinhos e decoração no seu aniversário. Teremos que descobrir outros prazeres nesta fase.

Você ganhou de aniversário um jogo de esquilo, próprio para sua idade, que fez o maior sucesso. Praticamente todo dia, alguém tem que jogar com você.

Você é bem maternal. Adora carregar suas bonecas molinhas, que você chama de "bebês". Coloca pra ninar, uma graça. Também ganhou uma de presente, que é a nova filha preferida.

Você já fala tudo muito certinho há algum tempo. Antes de completar 2 anos, já falava o R do seu nome corretamente. Há vários meses fala todos os encontros consonantais. Outro dia, na rua, você viu um carro amassado e comentou "olha, o carro prateado está quebrado". Inacreditavelmente, ainda fala "picoca" ao invés de pipoca.

Você fala português fluentemente. Costuma errar os plurais dos verbos e os passados. Como seu irmão na mesma idade, fala "eu fazei" ao invés de "eu fiz" ou "eu fazi", como falam tantas crianças. E, como ele, também diz "a gente fizeram".

Você adora as aulas de português aos domingos! Costuma participar ativamente e é uma das mais falantes na turma. Sempre observadora, comenta que coleguinhas estão ausentes e anuncia alto o nome de quem está chegando atrasado.

Você também fala servo-croata muito bem. Mamãe está sempre pegando no pé do seu pai e dos seus avós, pra que eles repitam na língua deles o que você diz em inglês. Impressionante como você não se confunde. Se diz uma palavra em inglês quando conversa com eles, é porque não sabe a tradução em servo-croata. Semana passada, você acordou de noite e chamou pela Mamãe, que a trouxe pra cama. Aí você se sentou na cama e começou a falar com seu pai na língua dele. Mesmo caindo de sono, não tem mistura, não tem confusão.

Suas aulas na pré-escola começaram no início do mês. Para surpresa de todos, você chorou bastante nos primeiros dias e ainda chora ou na entrada ou na saída. A professora diz que é só no começo, porque depois fica feliz na aula. Você já tem uma amiga preferida, a Isabella. Hoje seus colegas cantaram "happy birthday" e você trouxe pra casa uma foto da turma toda sentada no tapete, com você no centro.

Você ama nadar, é uma sereia! A professora de natação vive tecendo mil elogios. Não se pode dizer a palavra "piscina" sem que você corra pra arrumar a sacola com maiô e toalha. Não saiu à Mamãe, que aprendeu a nadar na marra e detesta entrar na piscina ou no mar até hoje.

Você continua bem arteira. Passou da fase de se lavar com a água do vaso sanitário, mas volta e meia ainda o entope com excesso de papel higiênico e de lencinhos de limpar o bumbum. Hoje mesmo chegou em casa toda carimbada. Achou um carimbo ninguém-sabe-onde e carimbou-se na testa, no nariz e nas mãos. A tinta foi tanta que não saiu com banho, mesmo esfregando muito.

Você gosta muito de dançar. Pediu pra fazer aula de ballet, adora vestir a roupa, mas ficou meio decepcionada com as primeiras aulas. Passou a gostar mais no final, perto da apresentação.

Você tem mania de guardar roupas em sacolas e mochilas. Está sempre empacotando uma muda de roupas, geralmente as sapatilhas de ballet e o collant, que carrega numa mochila quando sai de casa. Se houver necessidade de dançar de improviso, você estará preparada no quesito vestuário.

Você adora o momento de ler livros de noite! Escolhe o livro que quer ler e fica brava quando seu irmão lê alguns trechos em voz alta. Seriam ciúmes, por não saber ler ainda? Seus favoritos do momento são Cachorros Não Dançam Ballet e Papai É Meu!

Você pergunta o porquê de tudo. E assim que obtém a resposta, pergunta "por que?", numa investigação infinita. Seu pai adora ficar repetindo depois de você "por que?".

Você continua comendo bem. Talvez nem seja tão bem assim, mas comparada com um irmão mais velho que vive de fotossíntese, seu cardápio e apetite são excelentes. Você adora arroz e feijão, carne de todo tipo, com exceção de peixe(é absolutamente carnívora), farofa de ovo, lasanha, macarrão, "pizza de molho", tomate, várias frutas... Como seu irmão não come nada desta lista, você deve compreender a satisfação de ter uma criança em casa que aprecie a mãe cozinheira e os pratos nos restaurantes. Pra surpresa da Mamãe, não gosta de queijo (nem seu irmão, mas ele é um caso ímpar). E você adora ajudar na cozinha! Mamãe também sempre foi assim. Você gosta de descascar ovos cozidos, separar as forminhas pra fazer bolinhos e ama arrumar a mesa pro jantar.

Você tem um ótimo senso de organização. Separa sozinha a camisola e calcinha antes de tomar banho e tem o cuidado de pegar cueca e pijama pro seu irmão. Fica, inclusive, muito brava se ele mesmo pega a roupa dele.

Você parece gostar de implicar com seu irmão. Costuma arrumar briga pra sentar na cadeira dele na hora do jantar. Já houve mês de a cadeira ser confiscada e escondida, pra evitar briga. Se é a hora de ele praticar a lição de piano, você corre na frente e senta-se no banco antes, pra tocar primeiro. Coisas de irmã caçula? Ele às vezes tem bastante paciência, mas nem sempre.

Você adora a cor rosa. E vestidos. E tiaras. E sapatos. E brilhos. Como diz seu pai, Mamãe sonhou muito com uma menina e você veio como a encomenda. Bem menininha.

Já faz um tempo que ninguém além de você mesma decide o que você vai vestir. Mas até que aceita negociações e, no domingo passado, diante do dilúvio que caiu em Vancouver, até concordou em colocar um casaco e meia-calça pra usar com um vestido frente única que tinha recebido de presente. Sem chance de não usar o vestido novo, imagina! Como sua mãe e sua prima, tem o problema de "costas estreitas demais". Todo vestido frente única fica sobrando um tantão nas costas!

Na TV, você curte Max & Ruby (claro, você é i-gual-zi-nha ao Max) e Meu Querido Pônei.

Você adora cantar. No carro, canta muito e sabe várias músicas dos nossos CDs brasileiros de cor.

Você tem obsessão por band-aid. É raro o dia em que você não tem nenhum no corpo. As pessoas sempre perguntam com pena como foi o machucado, para ouvirem de resposta, em 90% das vezes, que não houve machucado algum. Há quem use maquiagem pra se enfeitar, há quem use band-aid. Hoje mesmo, na sua perna, tem um do Super Homem. E não foi por falta de band-aid da Hello Kitty no armário do banheiro! No desespero, você encara até o band-aid bege, de adultos.

Fomos à consulta de 3 anos de um estudo sobre alergias na infância, do qual Mamãe faz parte desde a gravidez. A moça mediu e pesou você. Está no percentil 50 de peso e de altura, mas pelo jeito vai ser bem magrinha. A quem será que puxou?

Você é muito carinhosa. Abraça, beija, diz que ama. Mamãe ganhou na loteria com você e seu irmão, dois fofos amorosos.

Queridíssima, você não tem ideia do quanto nossa vida ficou mais alegre, mais feminina, mais divertida, mais adorável desde a sua chegada. Mamãe A-DO-RA todas as suas manias de menina, ama arrumar seu cabelo mesmo que seja pra você despentear N vezes. E sua personalidade decidida, de lutar pelo que você quer, poderia ser vista como um defeito, mas Mamãe acha isso positivo. Papai do Céu foi muito generoso.

Obrigada por existir em nossas vidas,
Mamãe"

27 setembro, 2013

Por que?

Às vésperas de completar 3 anos, Fofolete é uma máquina perguntadeira:

- A gente vai sair, Mamãe?
- Sim, a gente vai ao shopping.
- Por que?
- Pra comprar o presente da sua amiga.
- Por que?
- Porque amanhã é aniversário dela.
- Por que?
- Porque foi o dia em que ela nasceu.
- Por que?
- Por que você fica perguntando 'por que' pra tudo?
- Porque eu sou pequenininha.

Contra fatos, não há argumentos.

24 setembro, 2013

Crescendo na Torre de Babel

Fofolete ganha uma boneca que, como todos os brinquedos da atualidade, vem amarrada com metal na caixa pelo pescoço, tornozelos e punhos. Pede ajuda à Mamãe para retirar o pobre brinquedo da sua cama de torturas. Mamãe consegue soltar os pulsos da coitada com a tesoura, mas a libertação do pescoço exige ferramentas específicas. Então, Fofolete escuta:

- Isso aqui só com alicate. Vai lá perguntar pro seu pai onde está o alicate.

Ela sai caminhando pelo corredor e repetindo: "a-ba-ca-te, a-ba-ca-te". É corrigida:

- Não! É A-LI-CA-TE!

Chega até o pai e fala, na língua dele:

- Bla bla bla alicate.

O pai pergunta:

- Bla bla bla "alicate"?

E ela, sem saber como se diz alicate em servo-croata ou em inglês, vibra de felicidade:

- Mamãe, o Tata falou "alicate"!

Nossa Língua Difícil

Fofolete, com quase 3 anos de idade, passa pela mesma dificuldade que o irmão teve por muitos anos para aprender em português quando usar "eu", "meu" e "mim". Surpreendentemente, nenhum dos dois comete o erro clássico de falar "pra mim fazer", mas usa "mim" como se usa em inglês.

E ela diz:

- Isso aqui é de mim?
- A professora não gosta de eu.

E, se alguém pergunta:
- Quem fez isso?
- Mim, foi mim.

15 setembro, 2013

SAL do Iglu para Anna

Tem farinha de mandioca (ruim, pro meu gosto), numa loja chamada Latin Market, perto da Commercial Drive. Também tem no Union Market, que fica em Strathcona, numa rua chamada Union St.

Farinha de mandioca gostosa, baiana, nunca vi aqui em Vancouver para vender em lugar algum.

Aprendendo Através da Música

Voltando da biblioteca a caminho do estacionamento, aparece um bando de gansos selvagens. Mamãe avisa:

- Gente, cuidado pra não pisar nos cocôs de ganso. A grama está cheia de cocô de ganso!

O Pacotinho de Vocabulário comenta:
- O parque está infestado de cocô de ganso!
- Infestado? Nem sabia que você conhecia esta palavra. Aprendeu no Brasil?
- Não, Mamãe. Tem naquela música "fui morar numa casinha infestada de cupim..."

13 setembro, 2013

Primeira Aula: Noções de Orientação Espacial


A pessoa decide voltar a estudar. O maior desafio é:

a) Ser a mais velha da turma
b) Encarar matemática do segundo grau
c) Pensar matemática em inglês
d) Ter aulas de noite, depois de trabalhar e cuidar dos filhos
e) Encontrar o carro na garagem e a saída da garagem

Resposta: E
Totalmente disléxica para direção.

Mas, já na segunda aula, a pessoa fica esperta e repara que o elevador que vai até a garagem fica DENTRO do prédio e não do lado de fora, como ela suspeitou depois de rodar 20 minutos pelo quarteirão no final da primeira aula. Claro, ninguém se torna orientado no espaço de uma hora pra outra, então, mesmo encontrando a garagem, ela leva um tempão pra encontrar o carro. Mas, logo que vê outro carro saindo, aproveita pra segui-lo e encontrar a saída.

E não é que tem muita coisa legal na matemática do segundo grau e você nem se lembrava?

08 setembro, 2013

Vida de Estudante - Prólogo

O Ministério da Saúde determina que a partir de um determinado dia, todos os centros cirúrgicos de hospitais públicos devem passar a calcular os preços de tudo o que é consumido em cada procedimento. Parece incrível, mas até este ano, ninguém sabia ao certo quanto custava uma cirurgia (qualquer uma) num hospital público em Vancouver. Então, se o cirurgião A quisesse usar os equipamentos mais caros para o mesmo procedimento que o Dr B sempre fazia somente com "um garfo, uma colher e uma faca", ninguém ficava sabendo.

Apesar de extremamente necessário, o projeto só faltou ser recebido com tomates e vaias. Na falta de um sistema universal de código de barras (sim, qualquer caixa do mercadinho da esquina pode usar, mas os materiais hospitalares não são produzidos com código universal de barras), os enfermeiros (quem mais?) vão registrar tudo manualmente, por isso a resistência. Na verdade, a turma dos reclamantes de plantão teria resistido até à maquininha do código de barras, mas o fato de ser tudo manual aumentou a raiva da turma contra o projeto. Por sinal, "projeto" é modo de dizer, porque vai ser eterno.

Então, você, ao invés de juntar-se ao grupo dos reclamadores, decide abraçar a causa, inevitável e compulsória. Como líder do seu departamento, você precisa preparar muita coisa meses antes que a primeira cirurgia seja calculada. E você se dedica, cumpre todos os prazos com antecedência e mantém uma atitude positiva e otimista. As suas chefes imediatas, duas ausentes e medíocres, só comparecem às reuniões do projeto depois que você sugere que uma delas participe para ao menos ficar sabendo em que pé estão as coisas e não fique inventando outras prioridades. Mas a diretora encarregada do projeto fica impressionada com seu trabalho. A chefe dela, uma mulher poderosa, fina, elegante, brilhante (quando você crescer, quer ser igual a ela), aparece numa das reuniões dizendo que você é "the bees knees" (o máximo). E, depois de duas semanas cheias de elogios por todos os lados (menos das suas chefes imediatas, que continuam alheias a tudo), uma das diretoras chama você ao final de uma reunião para dizer "you're a star. You REALLY are!" E sugere, quase num tom de ordem, que você faça um mestrado. Afinal de contas, a era das chefias hospitalares sem cursos de graduação (sim, a chefe do seu setor, que ocupou o cargo por 33 anos e é a melhor chefe que você já teve na vida não tem diploma universitário e sua chefe atual não tem mestrado) está com os dias contados. À medida em que forem se aposentando, as "líderes de operações", como são chamadas as chefias de um grande setor e as diretorias hospitalares, serão substituídas por pessoas bem mais jovens, mas academicamente mais bem preparadas.

E é assim que você chegou à sua situação atual: às voltas com matemática do segundo grau, preparando-se para prestar o GMAT. O primeiro passo de uma longa e cansativa caminhada até o mestrado. Na sua vida já corrida, arrumar tempo para estudar está sendo um desafio. Que bom, porque a gente costuma dar mais valor àquilo que nos chega com dificuldade.